5 de outubro de 2011

Entrevista

Esta pequena entrevista foi dada ao Blog ProjetoseTi pelo editor do site, Fernando Barbi, em Março de 2010.
Fala-se sobre o começo na carreira e algums dicas para quem quer entrar na área.
Qual sua perspectiva sobre o atual estágio da Gestão de Projetos no Brasil hoje?
 
Acho que está amadurecendo rapidamente nas empresas a percepção da necessidade de se ter
processos específicos para desenvolver novos projetos. Isso se deve provavelmente a uma maior
exposição da Economia brasileira ao mercado mundial, pelo canal da concorrência nestes mercados
mas também pela maior integração nas cadeias globais de produção. Antes só as multinacionais tinham esta necessidade, mas agora vejo que mais empresas estão preocupadas em se preparar. A concorrência no mercado doméstico também aumentou e agora o gestor deve satisfações a três públicos: o consumidor, os colaboradores e os investidores. Como conciliar tantos interesses se não for pelo aumento da produtividade? Um profissional mais qualificado tem maior produtividade, ie. produz mais em menos tempo e com menos recursos. O Brasil não vai crescer só pelo aumento do consumo, como acontece hoje, isto é uma ilusão com data para terminar. Para crescer sempre, o país precisa mesmo é produzir mais com menos, ser mais eficiente.

Vejo que o profissional de Gestão de Projetos deve estar cada vez mais preparado para trabalhar em diferentes fusos horários, falando outras línguas e respeitando outras culturas. A proliferação de cursos de pós-graduação na área é uma boa indicação do interesse crescente dos profissionais. Infelizmente são poucas as empresas que pagam o curso, mas isto está mudando à medida em que se verifica como um profissioal bem preparado rende muito mais.

Tenho percebido um aumento constante de demanda por informações sobre Gestão de Projetos e isso me animou a montar o site GestaodeProjetos.info que estou construindo a partir das dúvidas e sugestões dos visitantes.


Pela sua biografia você trabalhou com desenvolvimento de software. O que foi importante para
ingressar na carreira de Gestor de Projetos?

Eu vim da área de engenharia de software, comecei como programador. Depois fui promovido a líder de projeto e finalmente gestor de projetos. Minha base técnica forte foi importante para me dar legitimidade perante a equipe: eu sabia tudo o que tinha de ser feito e muitas vezes sentei e fiz junto com meus colegas de equipe.

Depois parti para outros tipos de projetos, como montar rede de dados e implantar serviços de valor agregado (tais como voz sobre IP) sobre estas redes. Novamente, estudei a fundo a parte técnica e as soluçãos adotadas para saber como o escopo do projeto poderia ser afetado.

A certificação como PMP só veio muitos anos depois como uma forma de mostrar ao mercado que eu tinha desenvolvido as habilidades necessárias para assumir novos desafios.

Resumindo: antes de ser o gestor do projeto, você deve participar de vários deles para entender o "outro lado". Aprendi mais com os gestores ruins, cujas falhas nos machucavam, do que com os bons profissionais queconduziam a equipe com tanta perícia que nem percebíamos sua presença.

E tem mais. Se você fizer seu trabalho bem feito, não espere pelos elogios e prepare-se para receber mais responsabilidades: quanto mais eficiente você for, mais responsabilidade vai receber. Isso é bom porque a remuneração costuma acompanhar e também crescer.

O que mudou na sua visão após se certificar como PMP?

Antes muita coisa era resolvida na base da intuição. Método doloroso e caro... Ao estudar o PMBOK (Project Management Book Of Knowledge) eu tive contato com uma visão mais completa do que é gerir um projeto e pude melhorar vários dos meus procedimentos. A formalização de um Plano de Riscos, por exemplo, é pouco comum e eu vi que era uma coisa simples mas muito útil para lidar com os problemas na hora H.

Veja que o gestor de projetos cuida de vários projetos (ou sub-projetos) simultâneamente e não pode estar sempre ao lado da equipe quando ela tem de decidir. No Plano de Riscos há uma parte em que se detalha como reagir quando um problema ocorre e isso dá à equipe autonomia para agir sem precisar me chamar. Com ele, todo omundo sabe o que fazer num momento em que a emoção pode estar dominando o lado racional. Esse tipo de insight, eu tive estudando para a certificação aliada à minha experência anterior. Acredito que a exigência de experiência de centenas de horas em projetos para se certificar seja necessária justamente porque dá ao profissional aquele recuo que só se ganha com a experiência pessoal e o faz mais apto a repensar sua forma de atuar profissionalmente.

Posso dizer que o processo de certificar e depois manter a certificação me dá a oportunidade de repensar meus métodos de trabalho e isso é muito valioso tanto  para o profissional quanto para a empresa em que ele atua.

Para quem está começando a se aventurar no mundo de PM/GP, qual sua dica de curso ou site
para não se perder no começo?

A área de Gestão de Projeto nasceu dentro da Administração com fortes vínculos com a Pesquisa Operacional, uma área de conhecimento normalmente tratada pela Engenharia de Produção. É uma atividade intrinsecamente multidisciplinar.

Se o candidato a gestor de projetos não tem uma base técnica sólida, ele precisa estudar Matemática Financeira, Pesquisa Operacional e ter algum aprofundamente em Estatística.

Para todos os candidatos, é interessante estudar Técnicas de Liderança e Gestão de Conflitos. Uma forma de fazer isso, é estudar os grandes líderes da história e ver o que os diferencia. Liderar não é mandar, é mais complexo do que só exercer o poder investido pela empresa no gestor, trata-se de alinhar os interesses dos stakeholders para aumentar as chances de sucesso do projeto.

Há bons livros e cursos em todas estas áreas. Certamente posso recomendar o PMBOK. Mas cuidado: muito mais do que ficar só decorando o PMBOK, o profissional que realmente quer se destacar tem de se aprofundar em diversas áreas de conhecimento. Isso é bom porque o prepara para assumir posições executivas na empresa, mas demanda uma boa dose de dedicação e humildade de saber que ainda há muito a se estudar. Eu sigo estudando muito até hoje e sei que é isso que tenho de fazer pela minha carreira no futuro.

Um bom conselho é: leia tudo o que puder sobre gestão de projeto, estude tudo o que diz respeito ao negócio em que sua empresa está e dedique-se a conhecer as pessoas que trabalham na sua equipe. Interesse-se de forma sincera por elas. Quão bem você implementa esta três iniciativas é que vai definir o seu sucesso como um líder legítimo dentro da organização e portanto um bom gestor de projetos.

Para finalizar seria possível comentar sobre as planilhas de modelo dos documentos do projeto?
As planilhas de modelo são bem simples, eu procurei deixar só o essencial. Quem for usá-las deve manter uma postura crítica: deve pensar no problema que tem que resolver e por que cada informação deve estar ali. Se não há um bom motivo, não coloque a informação só para encher a planilha.

Já me pediram exemplos e tutoriais para preenchê-las. Eu tenho até agora resistido por que parte do processo de  aprendizado é o interessado entender e saber explicar o problema que tem para resolver. Copiando o trabalho alheio sem uma boa compreensão da necessidade de cada informação pode lhe dar a falsa impressão de segurança.

Devo postar um texto que explique o que cada documento representa e como deve ser usado, como mera sugestão. Cada um deve ser capaz de formatá-lo de acordo com o tipo de projeto que tem em mãos. Nada de atalhos, nada de cookbooks (receitas de bolo) para quem quer liderar uma equipe e entregar projetos relevantes para a
empresa e a sociedade.



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